OFICINA DE TEATRO PARA INICIANTES.
INTERPRETAÇÃO E IMPROVISAÇÃO
A Oração (adaptação de Nilton Santos)
Trecho da peça a oração de Fernando Arrabal (13/03/11)
Cenário: um ambiente qualquer.
Fando: a partir de hoje seremos bons e puros.
Lis: o que houve?
Fando: eu te digo que a partir de hoje seremos bons e puros.
Lis: nós?
Fando: sim!
Lis: não poderemos (em desanimo)
Fando: é...tens razão...tentaremos!
Lis: como?
Fando: obedecendo as leis do senhor.
Lis: eu já não me lembro mais.
Fando: eu também não.
Lis: como faremos então?
Fando: para saber o que é o bem e o mal?
Lis: sim.
Fando: (tira uma bíblia do bolso) eu comprei uma bíblia.
Lis: isso é suficiente?
Fando: sim, sim, isto é o suficiente.
Lis: assim não nos chatearemos como agora, leia um pouco do livro.
Fando: a bíblia?
Lis: sim.
Fando: Deus disse “ faça-se a luz” e a luz se fez, e viu deus que a luz era boa, dividiu a luz das trevas e chamou a luz de dia... e as trevas de noite, assim fez o primeiro dia. Então o eterno deus formou o homem do pó da terra... Soprou em suas narinas e o homem tornou-se um ser vivo... Então o eterno deus fez cair um pesado sono sobre o homem... e este adormeceu. Tomou então, uma de suas costelas e fechou o lugar com carne, e da costela que tomou do homem formou a mulher
(os dois se abraçam)
Lis: poderemos dormir juntos como antes?
Fando: (triste) não!
Lis: coisa mais complicada essa, a bondade! (empurra ele)
Fando: (tenta se aproximar)
Lis: poderei mentir?
Fando: não.
Lis: nem sequer uma mentirinha?
Fando: não, nem sequer.
Lis: e roubar laranjas?
Fando: não.
Lis: então não nos divertiremos mais no cemitério como antes.
Fando: não...sim,sim, por que não?
Lis: e poderemos furar os olhos dos mortos como antes?
Fando: (dá as costas para lis) não... isso não.
Lis: e matar?
Fando ( suspense, ri) matar...não.
Lis: vamos deixar que eles continuem a viver?
Fando: lógico.
Lis: pior pra eles.
(os dois gargalham loucamente)
fando: não te dás conta do que é precisa para ser bom?
Lis: não! E tu?
Fando: não muito bem, mas, eu tenho o livro, assim saberei.
Lis: sempre o livro.
Fando: sim o livro!
Lis: e o que acontece depois?
Fando: iremos para o céu.
Lis: e que faremos lá?
Fando: nos divertiremos
Lis: sempre?
Fando: sim
Lis: (com Raiva) não acredito!
Fando: sim,sim, é possivel
Lis: por que?
Fando: porque deus... É todo poderoso. Deus faz coisas impossíveis, faz milagres. E da maneira mais simples.
Lis: eu no seu lugar faria a mesma coisa.
Fando: escuta o que diz a bíblia: “levaram um cego a Jesus e o rogaram que o tocasse, Jesus tomando o cego pelo o braço, levou-o o cego para fora da aldeia e, aplicando-lhe saliva nos olhos e posando-lhe as mãos, perguntou: vês alguma coisa? E o cego lhe respondeu: vejo os homens como árvores que andam. Então Jesus a por as mãos sobre os olhos do cego e ele ficou curado, de sorte que via tudo distintamente.
Lis: como é bonito!
Fando: e ele dizia que era preciso ser bom, por isso seremos bons, que era preciso sermos como crianças.
Lis: é difícil.
Fando: tentaremos, seremos como anjos!
Lis: como os bons ou como os outros.
Fando: não, os outros não vão para o céu, os outros são demônios, eles vão pra o inferno
Lis: o que eles fazem lá.
Fando: eles sofrem... muito, eles ardem.
Lis: não vejo nada de novo.
Fando: ah não, não, esses anjos são maus, eles se revoltaram contra deus.
Lis: por quê?
Fando: por orgulho. Eles queriam ser mais que deus
Lis: eles exageraram
Fando: nós nos contentaremos com muito menos.
Lis: com muito menos.
(tempo)
Lis: então eu quero começar a ser boa agora mesmo.
Fando: então começaremos agora mesmo.
Lis: assim sem mais?
Fando: sim
Lis: assim ninguém vai notar
Fando: deus notará.
Lis: está seguro?
Fando: sim! Deus vê tudo.
Lis: mesmo quando eu faço pipi.
Fando: sim, sim até isso.
Lis: de agora em diante terei vergonha. (tempo) fando...e o que nós fizemos antes?
Fando: o que nós fizemos de mau?
Lis: sim.
Fando: teremos que nos confessar
Lis: tudo?
Fando: sim, tudo!
Lis: e também que me despes para que teus amigos durmam comigo?
Fando: sim, também isso
(lis tem uma crise de gritos)
Lis: e também que nós matamos...
(blacaute)
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