quinta-feira, 24 de março de 2011

OFICINA PARA ATORES INICIANTES

HISTÓRIA DO TEATRO - MODULO 1

- A Origem e a Evolução do Teatro.

Introdução.

O termo teatro surgiu na Grécia; porém em língua portuguesa veio do latim theatrum, que por sua vez originou-se do grego théatron, derivado do verbo ver = theaomai, ou seja, théa = vista, visão (no sentido de panorama) + o sufixo [-tron] = instrumento, donde, "lugar onde se vê".

O vocábulo teatro apresenta as seguintes acepções:

a) Local onde se realizam os espetáculos.

b) Os próprios espetáculos.

c) O conjunto de textos, produzidos por um autor e a interpretação.

Essas três acepções, somadas, levam-nos a ideia de que o teatro é a arte do espetáculo. Contudo, nem todo o espetáculo é teatro. Para que seja teatro são imperativos a pré-existência do texto e a representação sobre um palco. Sob essas características, texto e ação, o teatro adquire seu verdadeiro significado.

A ORIGEM

É difícil precisar quando surgiram as primeiras manifestações cênicas; entretanto, crê-se ter surgido entre os povos primitivos como parte de rituais, pois as sociedades primitivas realizavam rituais e práticas religiosas que continham elementos teatrais como a dança e as representações cênicas, destinadas a acalmar ou agradar os deuses e deles obter favorecimentos para a sobrevivência (fertilidade da terra, sucesso nas batalhas, etc.). Não raro, os personagens destas danças usavam máscaras que representavam seus deuses. De modo que podemos considerar o teatro como uma das mais antigas formas de arte.

A informação que temos vem das pinturas em cavernas e da decoração em artefatos. As informações mais completas e detalhadas que chegaram até nós, referem-se às encenações teatrais da Antiguidade Grega.

Os gregos podem ter acreditado que foram eles os inventores do teatro, mas de acordo com os registros deixados pelo povo egípcio, eles precederam os gregos nas apresentações públicas. Os documentos revelam que os egípcios tinham, nas encenações, uma das expressões de sua cultura. Essas representações tiveram origem religiosa, cuja finalidade era exaltar as principais divindades da mitologia egípcia, principalmente, Hórus, Osíris e Ísis.

A história do deus Osíris, um drama mitológico, representado anualmente nos festivais, é a peça mais antiga que se conhece (escrita em 3200 a.C.). Relata a história do assassinato do deus Osíris por seu irmão Seth. O texto dessa peça, escrito num papiro, foi descoberto por arqueólogos em Luxor, no ano de 1895. Ele contém, entre outras coisas, as ilustrações das cenas, as palavras ditas pelos atores que representam a história e comentários explicativos. A morte de Hórus também era um dos temas centrais do teatro egípcio. E foi do Egito que elas passaram para a Grécia, onde o teatro desenvolveu-se admiravelmente, graças à genialidade dos dramaturgos gregos.

No continente asiático o teatro também já existia, embora, com outras características, que ainda hoje o singularizam. Na china, por exemplo, há referências de espetáculos teatrais - que envolviam música, palhaços e acrobacias - desde 2205 (um pouco depois do egípcio) e que se prolongou até 1766 antes da era cristã, durante a Dinastia Hsia. O que, cronologicamente, dá aos chineses o segundo lugar na hierarquia teatral.

A Índia começou a desenvolver seu teatro cinco séculos antes da era cristã. Os poemas Ramayana e Mahabharata podem ser considerados as primeiras peças originadas na Índia. Esses épicos forneceram a inspiração para os primeiros dramaturgos indianos, como Bhasa no (século II aC.). Portanto, o teatro egípcio, o chinês e o indiano, surgiram muito antes do teatro grego.

O Japão e a Coréia, mesmo sem contatos com o mundo ocidental, desenvolveram, formas próprias de teatro. No Japão, o sacerdote Kwanamy Kiyotsugu, que viveu entre os anos de 1333 e 1384 da era cristã (Idade Média), foi o primeiro dramaturgo japonês. O seu teatro era de extrema perfeição técnica. Tinha entre suas principais manifestações, a dramaturgia Nô, surgida do ensino do budismo Zen e dotada de grande complexidade psicológica e simbólica, e o Kabuki, mais popular, embora igualmente importante.

Verificando-se que as representações, nestas nações assumiram cunho inteiramente diverso do grego, não é sem razão afirmarmos que, somente para o mundo ocidental, a Grécia é considerada o berço do teatro.

O teatro Grego

O teatro, enquanto exercício do espírito humano, não pode ser definido rigidamente por meio do estudo de um período ou civilização específica. A ideia de se representar o vivido ou alguma situação ficcional está intrinsecamente ligada ao momento em que o homem se viu tentado a transmitir uma determinada experiência ou sensação. Contudo, entre os povos de toda a Antiguidade, não podemos deixar de salientar a especial contribuição dos povos gregos ao desenvolvimento desta instigante arte.
Segundo alguns estudiosos, a gênese do teatro grego tem relação com a realização das Dionistíacas, uma série de celebrações religiosas feitas em homenagem a Dionísio, deus do vinho. Com o tempo, as danças, gestos, músicas e poesias preparadas com o intuito de se falar sobre a mitologia dos deuses acabaria por transformar a encenação em uma prática cultural à parte. Dessa forma, o teatro nasceria através do culto aos deuses e passaria a falar de outras situações experimentadas no mundo cotidiano.
Entre os atenienses, o teatro ganhou uma caracterização especial ao reforçar a existência de suas instituições e justificar as ações que marcaram o desenvolvimento do imperialismo ateniense. Logo após a apresentação de uma peça teatral, os atenienses costumavam exibir as riquezas obtidas através da cobrança de tributos imposta aos seus aliados. Dessa forma, o teatro se transformava em um importante palco onde o triunfo ateniense era aplaudido por seus políticos, anciãos, soldados e eleitores.
Os gregos costumavam organizar festivais onde diferentes peças teatrais eram encenadas. Cada autor tinha o direito de inscrever até três peças que, costumeiramente, eram encenadas com a utilização de máscaras. A atuação só era feita pelos homens, que também realizavam a interpretação dos papéis femininos. Em certa altura, o teatro grego passou a se subdividir em duas modalidades: a tragédia, que valorizava os infortúnios dos homens e dos deuses; e a comédia, que tratava o cotidiano de forma jocosa.

Ésquilo (525 – 456 a.C.) foi um autor reconhecido pelo elogio às conquistas de Atenas e a homenagem aos deuses justiceiros. Em Os persas ele discorre sobre os principais acontecimentos ligados às guerras Greco-pérsicas e realiza uma crítica à prepotência do rei Xerxes. As peças de Ésquilo foram inovadoras ao promover a utilização de diálogos, máscaras e coros que conferiam maior dramaticidade às suas histórias. Este escritor também foi responsável pela criação de Oréstia e Os Sete contra Tebas.

Sófocles (496 – 406 a.C.), autor das obras Édipo Rei, Antígona e Electra, privilegiou a luta dos heróis contra o destino e a influência que os deuses possuíam na vida dos homens. Em Édipo Rei temos a história de um protagonista que mata seu pai e se casa com a própria mãe sem ter ciência do que ocorria. Com as peças de Sófocles, as encenações passaram a contar com a presença de um terceiro interlocutor no palco. Dessa forma, o número de personagens em uma história aumentava.

O escritor Eurípedes (445 – 386 a.C.) tinha forte espírito crítico e tratava com pessimismo as situações envolvendo a vida cotidiana e os costumes de seu povo. As personagens que surgem nas obras As Troianas, Medeia, Andrômaca e Hipólito geralmente discutem as paixões e a miséria do homem. Por acreditar que as mulheres eram mais sujeitas a esse tipo de situação, temos no legado teatral desse autor uma forte presença da figura feminina.

Por meio do teatro de comédia e pelo desenvolvimento dos textos críticos e satíricos, a cultura grega ficou conhecida. Aristófanes (445 – 386 a.C.) foi um dos mais proeminentes autores desse gênero teatral e se destacou pelo trabalho realizado em peças como As nuvens, A paz e As vespas. Dotado com forte senso crítico, esse autor do teatro grego era suficientemente ousado para dirigir seu humor contra importantes figuras políticas e divindades do mundo grego.

Referências.

BARTHES, Roland. O óbvio e o obtuso. Lisboa: Edições 70, 1985

CUNHA, J. C da. E o teatro do intérprete. Entrevista. Folhetim, n.14, jul./set. 2002.

FERAL, Josete. Os gregos na Cartoucherie: a pesquisa das formas. Folhetim, n.14, jul./set. 2002.

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